Este site explica alguns conceitos que vocês usarão para a utilização do aplicativo Monitorando a Cidade (MIT Promise Tracker) na campanha Biomonitorando as Águas, com algumas curiosidades. Primeiramente, vamos abordar o tema da bacia hidrográfica, seus aspectos e elementos, os recursos hídricos, vegetação ripária e seu papel no ambiente e por fim, os insetos aquáticos - quem são, o que fazem no ecossistema e como podemos utilizá-los para saber como está a qualidade da água. Estes conhecimentos auxiliarão a compreender as razões das escolhas das perguntas e também a entender os resultados obtidos com o monitoramento participativo.
Os ambientes aquáticos são alvo de forte degradação causada por uma variedade de agentes, provenientes de ambiente urbano, incluindo industrial, assim como o rural. A quantidade de produtos lançados diariamente é incontável, desde o “simples” esgoto doméstico com restos de alimentos, detergentes e sabões, e dejetos humanos, cita-se também hormônios e remédios descartados inadequadamente. Tudo isto afeta a biodiversidade gerando graves problemas ao ambiente aquático.
Dentre os organismos aquáticos, os insetos são reconhecidos mundialmente como indicadores de qualidade ambiental devido a diferentes graus de sensibilidade às alterações; apresenta insetos altamente sensíveis ao menor impacto enquanto que há outros que são extremamente resistentes e sobrevivem às mais severas poluições.
Uma grande contribuição dos insetos ao ambiente se faz na cadeia alimentar aquática, onde ocupam diversas categorias de alimentação, com representantes entre os filtradores, catadores, raspadores, picadores e predadores. A fase adulta da maioria dos insetos aquáticos é alada e voa, assim, conquista o ambiente terrestre e passa a fazer parte desta cadeia alimentar, como alimento de aves, aranhas, morcegos e outros animais presentes na área de proteção permanente (APP) ou nas áreas adjacentes, devido ao seu poder de dispersão, conferido pelo voo. Há também algumas espécies que atuam como polinizadoras de plantas.
Por viverem boa parte de seu ciclo de vida dentro do ambiente aquático, tudo o que ocorre ali é incorporado pelos indivíduos, alterações na concentração de oxigênio disponível, temperatura da água, entrada de sedimentos e outros materiais. Uma vez que estes animais são fonte de alimento de peixes e animais terrestres, a diminuição de sua comunidade pode afetar de forma significativa aos seus predadores, e consequentemente, afetar a alimentação humana.
A bacia hidrográfica é formada por uma área onde limitada pelo ponto mais alto do terreno (chamado divisor de águas), e toda a água da chuva que cai ali escoa para um curso d’água. Os sistemas aquáticos são classificados em dois grandes grupos: de água parada (lênticos) e água corrente (lótico) e esta diferença gera comportamentos diferentes nos animais e plantas que ali vivem, como também na qualidade da água que é verificada pelas variáveis físicas e químicas.
Nossas ações no ambiente como urbanização, desmatamentos, diferentes tipos de agricultura, mesmo que ocorram longe do curso d’água irão afetá-lo, pois haverá entrada de sedimento (terra) e outros materiais para dentro do rio, como o lixo que além da poluição visual, pode até auxiliar no caso de enchentes, diminuição do sombreamento por falta de árvores e vários outros efeitos que afetarão a vida dos organismos aquáticos.
A qualidade da água é analisada pelas variáveis físicas e químicas, as mais comuns são:
Um componente muito importante na bacia hidrográfica é a vegetação ripária.
É a mata que fica nas margens; o termo “riparius” (do latim) significa “de ou pertencente à margem do rio”. Pode ser chamada também como mata ciliar, quando margeia rios de médio e grande porte, ou mata de galeria, para riachos e córregos.
Importância da mata:
Para proteger o ambiente aquático, a mata precisa cumprir alguns requisitos:
A observação da cor da água após uma chuva forte permite inferir se a vegetação está cumprindo seu papel: se estiver barrenta, há falta de vegetação e o ambiente aquático está sendo sobrecarregado.
Um córrego saudável possui alta diversidade de animais, peixes, anfíbios, insetos, todos vivendo harmoniosamente. Quando a comunidade diminui e somente poucas formas estão presentes, é porque provavelmente há poluição orgânica e contaminação do ambiente.
Os insetos pertencem ao filo Artropoda. Suas características básicas principais são descritas nas formas adultas: 3 pares de pernas, 1 par de antenas e 2 pares de asas. Numericamente, é o grupo mais expressivo de todo reino animal, havendo mais de 750 mil espécies descritas e ainda há muito a ser descoberto, principalmente na nossa região.
Podem ocupar todos os tipos de habitats do planeta, desde desertos, mares, excrementos e regiões geladas. Várias adaptações fisiológicas, morfológicas, comportamentais foram desenvolvidas para sobreviverem nestes ambientes inóspitos.
Adaptações
Respiração
Forma do corpo
Corpo achatado e em forma de gota diminui o atrito, o que ajuda na aderência a substratos (pedras) e diminui o efeito da correnteza.
Comportamento
Construção de tubos utilizando gravetos, grãos de areia ou pedaços de folhas. A água passa por dentro deste tubo e a matéria orgânica se prende nas paredes do tubo. Aí é só a larvinha raspar a parede e pegar a comida que grudou ali.
Respostas à degradação ambiental
Alguns insetos são mais sensíveis que outros à qualidade ambiental, um ambiente bastante conservado possui uma alta diversidade de animais, inclusive aqueles mais sensíveis. A medida que a degradação ocorre, os sensíveis desaparecem e somente os tolerantes e os resistentes permanecem. Caso a degradação piore, somente os resistentes serão capazes de sobreviver. Por causa dessa capacidade de mostrarem como está a qualidade do ambiente, são chamados bioindicadores. As principais respostas à degradação são:
A resposta é confiável por indicar o que aconteceu no ambiente mesmo se o agente não esteja mais na água, por exemplo, ao se jogar uma substância na água, em pouco tempo ela desaparece porque a correnteza carrega, mas os insetos terão incorporado essa substância em seu corpo, e pode ocasionar alguma das respostas listadas acima.
Vantagens em utilizar os insetos:
Desvantagens:
Ordens de insetos aquáticos
Nas águas doces, encontramos 9 ordens de insetos, porém somente os besouros são verdadeiros aquáticos, pois vivem toda sua vida dentro da água. Nas outras 8, os adultos voam e ocupam o ambiente terrestre. Para o aplicativo, somente 3 ordens serão utilizadas, Trichoptera (constroem casinhas), Odonata (libélulas) e as larvas vermelhas (Chironomus, da família Chironomidae, ordem Diptera).
As ordens apresentadas a seguir, são agrupadas pelo grau de sensibilidade às mudanças no ambiente:
Sensíveis
Ephemeroptera – Abdômen termina em três cerdas, possuem brânquias laterais de diversos formatos (parecem folhas) no abdômen
Plecoptera – Muito parecidos com os efemerópteros, porém possuem apenas duas cerdas no fim do abdomen, e as brânquias localizam-se embaixo das pernas ou na porção final do abdômen (parecem tufos de pelos);
Trichoptera – As larvas de algumas famílias se caracterizam por fabricarem redes e tubos (casinhas), para moradia e captação de alimento. Estes tubos podem ser feitos de grãos de areia, pedaços de madeira de diversos tamanhos ou folhas, atados pelos fios de seda;
Odonata de abdômen abaulado (gordinho) (Anisoptera) – São as libélulas. Possuem grandes mandíbulas que cobrem o rosto, parecendo uma máscara, são predadores. Possuem o abdômen gordinho por causa das brânquias que são internas;
Megaloptera – Larvas grandes, são predadoras e possuem grandes mandíbulas. Abdômen possui filamentos laterais bastante desenvolvidos;
Tolerantes
Megaloptera – as larvas tolerantes são diferentes das sensíveis por possuírem um filamento longo na extremidade do abdômen, assim como as sensíveis, também possuem filamentos laterais bastante desenvolvidos;
Lepidoptera – São as borboletas e mariposas. Há apenas uma família (Pyralidae) com larvas de vida aquática;
Odonata “magrinha” (Zygoptera) – São as libélulas de abdômen fininho e longo, terminando nas brânquias (parecem folhas);
Hemiptera – Exemplo muito conhecido é a barata d’água. Possuem boca em forma de bico, para sugar, como se fosse um canudo. Algumas possuem pernas dianteiras para escavar e traseiras largas e modificadas para o salto. São predadores e a maioria é nadadora de superfície ou caminha sobre a água, sendo confundidas com aranhas;
Coleoptera – São os besouros. Possuem grande variedade de formas corpóreas;
Resistentes
Diptera – Compreendem os mosquitos, borrachudos, os hematófagos de forma geral. As formas dos corpos das larvas são variadas, a maioria possui corpo fino e roliço, sem pernas. Nem todas as famílias são resistentes, destaque para a família Chironomidae, há um gênero que a larva é vermelha (pela presença de hemoglobina), e que é muito resistente à degradação, podendo viver em ambientes extremamente poluídos. Essas larvas, de preferência, se enterram no sedimento, que nada mais é que a terra presente no fundo do ambiente.
Texto elaborado pela Dra. Kathia Cristhina Sonoda, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente.
Fotos: